Cientista brasileiro conserta neurônios autistas em laboratório e traz esperança de cura para pais de crianças com o problema 19/11/2010 - 08:11

"Tenho uma filha autista de 5 anos e me interessei muito a respeito de suas novas conquistas sobre o autismo. Somente venho me solidarizar e deixar minha filha e eu à sua disposição se pudermos ajudar no seu estudo.” Essa mensagem endereçada por meio de uma rede social ao neurocientista brasileiro Alysson Muotri, da Universidade da California (EUA), é apenas uma das centenas que ele vem recebendo depois que descobriu, em laboratório, diferenças entre neurônios autistas e normais e, assim, conseguiu “consertar” aqueles com problema.

Para o especialista, é difícil estudar síndromes psquiátricas, que envolvem a interação social, com modelos animais ou com cérebros doados para pesquisa após a morte do paciente, já muito comprometidos. “Meu interesse era acompanhar os estágios iniciais do desenvolvimento do cérebro humano, desde a fase embrionária”, diz. Para isso, foi feita uma biópsia (retirada de um pedacinho) da pele de crianças autistas e normais, e as células da pele foram transformadas em células-tronco embrionárias humanas, que podem dar origem a neurônios.

A partir daí, Muotri e mais dois cientistas brasileiros que também participaram do estudo perceberam diferenças entre os neurônios. O tamanho do núcleo de neurônios autistas eram menores e o número de sinapses, estrutura que permite a comunicação entre um neurônio e outro, eram reduzidas. Os neurônios com problemas foram, então, tratados com duas drogas e, após a medicação, o número de sinapses aumentou e eles passaram a se comportar como os normais. “Esse foi o momento mais impressionante e de muita emoção do nosso trabalho, porque nos mostra que essa característica autista [crianças com dificuldade para se comunicar, interagir e com comportamento repetitivo] não é permanente. Ela pode ser revertida”, afirma.

Segundo Muotri, com esses resultados fica claro que o autismo é uma doença biológica provavelmente causada por um defeito genético,uma vez que esses neurônios autistas não sofreram nenhuma influência externa. “Isso contribui para reduzir o estigma que acaba ficando na cabeça dos pais de que a criança tem o problema ou porque eles não deram amor e estímulo suficientes ou porque alguma vacina provocou o autismo”, afirma. Apesar de os grupos antivacinas não terem tanta força no Brasil, na Europa e nos Estados Unidos muitos pais deixam de vacinar os filhos porque acreditam que os imunizantes podem ser responsáveis pelo distúrbio nas crianças. (Leia Vacinação Não Causa Autismo)

O próximo desafio da equipe de pesquisadores é encontrar drogas seguras e eficazes que possam reverter o estado autista nos neurônios humanos até mesmo antes de os sintomas aparecem na criança. “Estamos caminhando para uma medicina personalizada em que será possível retirar células do feto no útero para experimentos e diagnósticos”,diz. Os medicamentos utilizados em laboratório poderiam causar efeitos colaterais tóxicos, além disso é preciso saber a dose exata para não trazer outros problemas, como aumentar demais as sinapses cerebrais, o que poderia provocar ataques epilépticos.

Ainda não se sabe quanto tempo os cientistas vão levar para desenvolver um medicamento seguro e, enfim, curar o autismo. A estimativa é de dez anos. Mesmo assim, a repercussão do estudo - publicado na revista científica Cell – que aconteceu na mídia e por tantos pais e mães tem servido de inspiração para Muotri. “É impressionante o número de e-mails que tenho recebido de pais de todo o canto do mundo agradecendo por ter trazido uma esperança de cura para seus filhos. Sempre me envolvo e converso com mães e pais para entender melhor o autismo, porque nada como eles para saber todos os sintomas e quando aparecem. Eu vejo o quanto é difícil, e sempre penso em como posso ajudar cada criança.”

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