Dor de cabeça ou enxaqueca? 30/01/2011 - 06:30
É horrível ver seu filho sofrer de dor na cabeça, principalmente se ele não entende o que está acontecendo. Então, você dá um analgésico e tudo fica bem. Quando o quadro se repete outras vezes, seu medo aumenta: “Será o sintoma de um tumor ou de algo pior?” Mesmo sabendo que os problemas graves são minoria, você nem pensa em enxaqueca. Pois deveria. A doença atinge 5% das crianças brasileiras com idade até 8 anos e a frequência dessas crises vem aumentando. A culpa é dos novos (e maus) hábitos de vida, como alimentação ruim, sono desregulado e até estresse.
O mais difícil, porém, é distinguir uma simples dor de cabeça de uma enxaqueca. Existem mais de 150 tipos de dor de cabeça, que também é um sintoma comum de outros problemas como mudanças metabólicas, contaminações tóxicas e doenças infecciosas. Além de tudo, sua origem está ligada às alterações bioquímicas cerebrais, algumas genéticas.
Pode-se dizer que a diferença básica está na frequência com que as crises ocorrem: as cefaleias primárias, como a enxaqueca, se repetem com regularidade. Na maioria das vezes, a dor é unilateral, latejante, forte e se acentua com os esforços físicos. Em algumas pessoas, as crises podem ser desencadeadas por fatores como emoção, alimentos, mudanças no horário de sono ou calor excessivo.
Só pelo Ambulatório de Cefaleia, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), passam cerca de 80 crianças por mês. Todas com a mesma queixa de crises recorrentes. A doença sempre existiu, mas nem sempre os pais a levam a sério. Alguns acham que a criança só quer chamar atenção ou imitar o comportamento dos adultos e vários casos não chegam aos especialistas. Por isso, a estatística de enxaqueca infantil pode ainda estar subestimada.
Os mecanismos exatos que ocorrem durante uma crise de enxaqueca não são totalmente conhecidos, apesar de estudos realizados todos os anos. A doença é tida pela Organização Mundial da Saúde como uma das dez mais debilitantes do mundo. Costuma causar enjoos, vômitos, intolerância à luz, aos ruídos e até a cheiros. A criança fica apática, para de brincar, muda de humor e, muitas vezes, perde aula. Acredita-se que o componente genético esteja presente em 90% daqueles que têm parentes de primeiro grau com o mesmo problema, mas o gene responsável não foi identificado.
Sandra Helena Cuneo, 38 anos, lembra que sua primeira crise foi na adolescência, mas, quando a filha Monique, então com 2 anos, começou a reclamar de dor, não imaginou que a caçula de suas duas meninas sofresse da mesma doença. “Era tão novinha. Eu e meu marido a levamos para fazer raio X e ver ser era sinusite. Foram realizados ainda ressonância, tomografia... e nada. Passaram-se quase dois anos de pesquisas até minha neurologista pedir para examiná-la. O diagnóstico foi mesmo enxaqueca”, diz. O tratamento com remédios durou seis meses, com doses diárias. Durante esse período, as crises desapareceram e, mesmo com a diminuição da dosagem, as dores passaram a ser esporádicas e menos intensas.