Dormir junto com os pais é ruim para a criança e o casal 16/02/2011 - 08:30

    Desde que seu filho nasceu, a sua cama ficou pequena demais? Saiba que compartilhar esse espaço com os filhos, apesar de muitos pais negarem, é mais comum do que se imagina. Um estudo britânico revelou que 40% dos pais deixam as crianças passarem a noite junto com eles. Segundo Mauro Borghi, pediatra do Hospital São Luiz (SP), a situação não é diferente no Brasil, e é frequente.

    E há todo tipo de motivo (e desculpa!). Em nossa página do Facebook, o assunto ganhou fôlego. Daiane Mendes Ferreira, mãe de um menino de 4 anos, conta que até hoje o filho dorme na sua cama e agora a luta é colocá-lo para dormir em seu quarto. “Parece fácil, mas não é. Essa transição está sendo, no mínimo, demorada e estressante. Mas nós não vamos desistir”, escreveu. Afirma, ainda, que sabe que essa situação prejudica tanto a privacidade do casal quanto a autonomia do filho.

    E é exatamente isso que alertam os especialistas. Apesar de ser prazeroso dividir a cama com os filhos, há riscos físicos e psicológicos. A pediatra Márcia Pradella-Hallinan, coordenadora do setor de pediatria do Instituto do Sono da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), faz algumas ressalvas. "A divisão da cama pode restringir os movimentos do bebê", afirma. Além disso, diz Borghi, há risco de machucar a criança, sufocamento, morte súbita e hiperaquecimento. “É contraindicado em qualquer idade”, enfatiza. Isso sem contar o quanto o sono do casal fica prejudicado.

    Pelo receio de que algo aconteça com o filho, a arquiteta Camila Cavalcante, 35 anos, nunca deixou o filho caçula, Pedro, de 11 meses, dormir com ela. “Acho perigoso um bebê dormir com os pais. Como os quartos são próximos, eu uso babá eletrônica com vídeo. Prefiro observá-lo por ela ou indo até lá mesmo”, diz. Já com a filha Gabriela, de 3 anos, há exceções. “Quando ela está doente ou em alguns finais de semana em que estamos muito cansados, eu deixo, porque dá mesmo trabalho convencê-la de dormir no quarto dela. Mas isso é bem raro.”
O que também preocupa os especialistas, porém, são os danos ao desenvolvimento emocional das crianças. Para a pediatra Márcia, da Unifesp, dividir a cama com os filhos prejudica a personalidade deles, tornando-os exageradamente dependentes. O pediatra Henrique Klajner concorda. "Considerando o respeito à individualidade, algo bastante valorizado na nossa sociedade, o hábito é altamente prejudicial", afirma.

    Outra crítica diz respeito à intimidade do casal. Se, por um lado, a cama familiar aproxima pais e filhos, pode afastar os parceiros. Isso porque, nos primeiros meses de vida do bebê, é comum o relacionamento ficar em segundo plano. As mudanças hormonais que ocorrem no corpo da mulher no período da amamentação, por exemplo, podem afetar sua libido. Sem falar nas noites sem dormir, na insegurança, no cansaço. Para quem está com pouca motivação para o sexo, a falta de liberdade na cama pode acentuar ainda mais essa distância.

    OK. Você leu tudo isso e está se perguntando: “E agora? Como fazer meu filho dormir no quarto dele?”. Muita calma. “A transição deve ser feita de forma gradual. Uma dica é o pai ou a mãe ficar ao lado da criança, numa cadeira, por exemplo, até ela adormecer. E repetir o processo sempre que o filho acordar”, afirma Borghi. Um quarto aconchegante e uma luzinha fraca para espantar o medo do escuro também ajudam, junto com muita paciência e persistência dos pais.

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